Itaipulandia

A arte de Geladinho. 2010.

Descemos a avenida principal com destino ao centro de Itaipulândia, poucas quadras e nos deparamos com uma casa ornamentada com garrafas pet. Um letreiro menciona que por lá está proibida a caça, quem assina se denomina empresário Geladinho. Ainda era cedo e por ser cedo a casa estava fechada, decidimos retornar mais tarde e conhecer seu habitante. Na loja de roupas
nos disseram que Maximiliano, vulgo Geladinho, é o morador da casa fantástica. Com a dengue e a insensibilidade de algumas pessoas resta pouco dos ornamentos de tempos atrás. Batemos palmas, um grande homem nos atendeu. Maximiliano fala de amor, da beleza feminina, de música, de infância, do poder político. Entre suas invenções estão: Brizola morto-vivo, aviões da Tam, Teixerinha, a santa de sutiã, o pescador. Nos convida para entrar, nas paredes de sua casa pinturas e objetos curiosos, dentre eles muitas garrafas de refrigerante, todas por ele consumidas. Pegou seu violão de embalagem tipo bombona e cantou algumas canções italianas de sua autoria. Geladinho vive sozinho e a danada solidão faz com que vá na rádio da cidade em busca de uma nova companheira. Gorda ou magra, tem que ser parelha. Quem sabe um dia Geladinho.
A vizinha, outra artista da cidade, Zulmira. Sua voz calma nos entreteve durante tempo. Seu desejo é deixar Itaipulândia, pelas pressões políticas no município sente que chegou a um limite. De repente Jaraguá do Sul possa ser um bom lugar para recomeçar. Mudança de lugar, mudança de ramo, do atelier de artes para as terapias.
Zulmira fala de amor, de memória celular, de transposições dimensionais, de vítimas e agressores, de pertencimento e exclusão, do poder político. Viaja sempre para Curitiba. Filosofia e espiritualidade. A lei do amor trata da ordem, do pertencimento, da compensação. Tudo é um grande amor. Ainda se interessa por mandalas, formas circulares presentes em desenhos desde a infância.
No mirante Nossa Senhora Aparecida, em homenagem a Aparecidinha D’oeste. Monumentos são comuns em toda região lindeira. Terras e águas em vista. Sr. Chico comenta sobre os tempos da desapropriação, em plena ditadura seus pais bravamente protestaram na beira da estrada, necessitavam de melhores indenizações.
Aguardávamos deitados na grama, quando chega Urbano com as chaves da antiga prefeitura, hoje Casa da Memória. Logo na entrada o boneco equilibrista, brincadeira de sutil movimento. Nos fundos uma oficina com plantas medicinais e ornamentais incomuns para nós. Provamos o cicatrizante natural em nossos cortes e picadas.
Urbano fala com amor sobre restauro, acervo, em como aprender a fazer fazendo. Comenta detalhadamente sobre cada planta, inventa facas. Gosta do que faz.
No mercado queijos e pães caseiros especiais, feitos a décadas pelas mesmas pessoas.
No início da noite chegamos na casa de Rodison. Escreveu um livro sobre a cidade. Fala do alagamento, do antes e do depois, da desarticulação nas indenizações. Do analfabetismo. O papo vai longe.

Conteúdo originalmente publicado em 09/01/2010 no blog Trânsitos à margem do lago da extinta página web Rede Kuai Tema de Pontos de Cultura

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