Itaipulandia – Missal – Santa Helena

Plantação tratada com agrotóxicos. 2010.

Passamos a régua no Hotel e Churrascaria Münch. Enquanto aguardávamos o ônibus para Missal iniciamos uma conversa com Ella, de 75 anos, matriarca da família Münch. Sua história começou na fuga dos alemães da Rússia, deixando para trás os pertences e até os bebês no berço. Quem conseguiu entrar no trem fugiu, outra forma de fuga foi enfrentar a neve numa travessia de trenó por rios congelados, uma outra fronteira. Nos navios que saíram da Europa lotados de gente outros tantos ficaram pelo caminho. Destinos variados, parentes espalhados pelo mundo – Canadá, Estados Unidos, Argentina, Brasil, Uruguai, entre outros lugares que abrigaram os refugiados de guerra, teve até gente que nasceu na China.
Ella nasceu no Brasil, abrindo clareiras na mata intacta, viveu também no Paraguai, uma de suas frases “Vocês não acreditam, bem interessante a vida da gente.” – Gosta de Itaipulândia.
Em Missal encontramos Ivo, o Preto. Segundo ele, no início da cidade, para entrar na Gleba dos Bispos tinha que ser alemão e católico, coisa que não deu muito certo porque já havia italianos por lá, também os nortistas. Ivo tem um restaurante onde trabalha com mais dois filhos, Ademir e Betão. Possuem um mural de fotos de pescaria. Ademir lembra de uma das vilas alagadas já deserta, como se nada tivesse vivido por ali um dia, viu quando criança a água subindo e sepultando tudo. Betão, voluntário da rádio comunitária da cidade com boletins de esporte, nos levou até Gisela, professora que escreveu um livro sobre a história da região, sobre a presença britânica e a madeira rio abaixo que ajudou na reconstrução da europa pós-guerra, sobre a diminuição drástica da população nos anos de 1980 e claro, sobre a cultura germânica. Missal é um livro de missas.
Para além da igreja uma comemoração – bodas de ouro de algum casal – chopp e dança para toda família e convidados.
Terminamos o dia já em Santa Helena. Lá andamos pela Linha Progresso, pé de butiá e de mexerica na rua de muitas pedras, próximo ao refúgio biológico.

Conteúdo originalmente publicado em 10/01/2010 no blog Trânsitos à margem do lago da extinta página web Rede Kuai Tema de Pontos de Cultura

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