Partimos cedo do Hotel Webber, na casa de câmbio Gustavo passou algumas informações sobre o outro lado da margem. Nego, um descendente de italianos, nos conduziu até o porto de Santa Helena, lá passamos pelo procedimento padrão da polícia e receita federal. Minutos depois estavamos em cima da balsa “Oro y Plata” a caminho de Puerto Indio, a bordo mais alguns caminhoneiros em busca de milho e soja. Durante a travessia um bosque de árvores mortas, fruto da inundação. Em Puerto Indio fomos recebidos por Steban, Carlos, Francisco e Gustavo. Ahora nosotros hablamos en castellano. Atenciosos, nos informaram como transitar pela região. Depois de uns tantos tereres Francisco, administrador do porto, nos convidou para almoçar com sua família campesina e amigos – Sara, Pedro, Victor e mais uns chicos e niñas. Conhecemos um típico almuerzo paraguayo, mandioca cozida sem sal, ensopado de poroto e carne, a sobremesa foi manga ou melancia.
Sara é estudante de engenharia ambiental e gosta de cartografia, utiliza esse tipo de representação para visualizar e denunciar problemas ambientais como a diminuição de nascentes d’água, áreas florestais e o crescimento da monocultura no Paraguay. Pedro luta por se manter no campo, para ele terra não é mercadoria, é contra o uso de agrotóxicos e a monocultura, se vê ilhado pela vastidão de soja trangênica ao redor do assentamento. Victor estava quebrando o piso do galpão a duras marteladas, preparava o espaço para receber uma ordenhadora. Havia estudado plantas medicinais, o que ajuda em muito a comunidade, pois não há atendimento médico fácil na região. O local pertence a associação de campesinos e lá funciona uma rádio. Gustavo e Francisco voltaram ao porto, nós preferimos ficar, pois a conversa estava boa. Algumas horas depois Gustavo retorna, precisava comprar gelo e buscar a pelota, chuteiras e o uniforme do time em que joga. Na região há um campeonado onde participam nove equipes locais, no último ano o time de Gustavo foi campeão, o Shealsea de Puerto Indio. Nos levou de volta ao porto onde esperamos por uma carona, precisávamos chegar até General Días, lá teríamos onde dormir. João nos levou em seu caminhão da década de 1970, atravessa frequentemente a fronteira em busca de grãos. Nas duas margens da estrada uma imensidão de soja, vez ou outra avistamos algum cilo, uma paisagem que chega a entediar.
Em General Días chegamos à lanchonete do Lourival, com a voz mais mansa do mundo e em português Lourival nos encaminhou ao nosso quarto, número 3. Ainda no final do dia demos uma pequena volta pelas ruas da comunidade de aproximadamente 600 habitantes, quase todos brasileiros.
Conteúdo originalmente publicado em 14/01/2010 no blog Trânsitos à margem do lago da extinta página web Rede Kuai Tema de Pontos de Cultura