Conhecemos melhor o cotidiano de Lourival, nos convidou para entrar em sua casa, chão encerado, cortinas nas portas, bordados e crochês na lavanderia, um belo rincón para quem vive sob a poeira vermelha levantada pelos caminhões na estrada de chão. Ainda pela parte da manhã fomos até o negócio de seu irmão Américo, sua esposa era uma das pioneiras do lugar. Ambos comentaram sobre as dificuldades de viver no local, o analfabetismo, o passado: “General Dias era tudo mato”.
Mais uma carona, agora o destino foi Mbaracayu. Pedro trabalhava transportando verduras para os mercados da região, sua van estava totalmente depenada, estética comum no Paraguai.
Já em Mbacarayu conhecemos o fazendeiro Mário e seus filhos Ademir e Walmor. Mário era um grande proprietário de terras da região, açougueiro e também dono do mercado. Contou sobre sua vinda do interior do Paraná àquelas terras, da perda dos primeiros 70 hectares que comprou com sua família – a colonizadora vendeu o que não lhe pertencia – de todo o trabalho que teve para criar os quatro filhos, do sonho da mecanização e da realização financeira (sempre gostou de números), do fim da agricultura de subsistência, do isolamento em relação aos paraguaios e do abandono – somente no último mês quatro famílias haviam partido de Mbaracayu.
Carona de moto até o posto tentar uma refeição, mas em Mbaracayu encontrar um lugar para almoço não é tão simples.
Aguardamos até o início da tarde para visitar a Casa de Cultura, lá conhecemos Nidia e seu filho, uma das poucas paraguaias do lugar. Com seu temperamento calmo nos mostrou alguns livros de estatísticas e de poesias em guarani, coisa rara em meio aos poucos livros em português da estante. Nos falou sobre a morte de sua mãe e de seu retorno à Mbaracayu para ficar perto do pai. Mbaracayu é um lugar calmo.
Retornamos ao mercado, Walmor e Mário nos deram uma carona até San Alberto. No caminho perguntamos sobre o uso de agrotóxicos nas plantações, não são contra, os técnicos das empresas químicas os ensinaram o correto modo de uso. Quanto a contaminação da água pelo veneno, disseram que é tudo bobagem dita por gente que não entende das coisas, o que polui a água é o esgoto que vem de São Paulo.
Terminamos nosso dia em San Alberto, cidade Brasiguaia e colorada. Ainda deu tempo para deixarmos nossas roupas sujas numa lavanderia algumas quadras do hotel.
Conteúdo originalmente publicado em 15/01/2010 no blog Trânsitos à margem do lago da extinta página web Rede Kuai Tema de Pontos de Cultura