Chegamos a Marechal Cândido Rondon no início da tarde, tentamos contactar as pessoas indicadas por Fernanda, mas por vários motivos não conseguimos. No caminho de volta passamos na Casa do Artesão, uma bela casa em uma grande praça arborizada. Zilá sugeriu para conversarmos com Marly, pois havia vivenciado o período de desapropriação causado pelo lago de Itaipu. No caminho à casa de Marly caiu uma chuva refrescante, entramos num armazém que vendia queijos produzidos na região. Lá conhecemos os Vinceguera, nome que trás a história da saída da europa, a opção por esse nome sucedeu durante a viagem de navio ao Brasil, escapar da guerra foi o modo de vencê-la. Os Vinceguera nos falaram de um tal de Allica, senhor temido na região, jogava seus cobradores rio Paraná abaixo, na época dos mensur. Armínio e Ivani comentaram também sobre os ciclos de exploração da região, a laranja Pepu, a madeira, a hortelã, a erva-mate e agora a soja.
Chegamos à morada de Marly, uma casa de madeira pintada de verde que havia sido transportada de Porto Mendes antes do alagamento, na época foi recorrente o uso de caminhões adaptados para levar casas inteiras de um lugar à outro. De origem alemã, Marly faz questão de assinalar também a presença guarani, uma de suas avós é filha de um alemão e de uma guarani.
Depois de criar suas duas filhas e da morte de seu marido, Marly decidiu fazer faculdade, letras português – alemão, a dois anos se formou. Hoje leciona em escolas públicas e dá aulas particulares de alemão em sua casa.
Nos falou da vida comunitária da colônia à margem do rio Paraná e do isolamento na cidade. Segundo Marly, para os colonos que trabalhavam na lavoura a mudança foi radical e desestruturou famílias inteiras.
Seu avô veio ao Brasil com nove anos, foi o responsável por conservar a língua em sua família, trabalhou como construtor, agricultor, escritor, além de um grande contador de histórias reais. Marly ainda nos mostrou muitas fotos de família e objetos antigos que guarda em sua casa, seu desejo é transformar o lugar em um acervo da família. No grande jardim, havia galinhas, um cachorro e dois loros – um deles falava algumas palavras. Na saída Marly traduziu uma placa alemão disposta no portão: Neue Aussichten – Novo Horizonte. Tivemos uma tarde cheia de lembranças.
Conteúdo originalmente publicado em 20/01/2010 no blog Trânsitos à margem do lago da extinta página web Rede Kuai Tema de Pontos de Cultura