Hernandarias é a cidade paraguaia onde está Itaipu. Diferente do Brasil a visita as instalações da usina é gratuita, o que nos incentivou a fazer o passeio. Tudo inicia com um vídeo institucional, na versão paraguaia, com o título Itaipú Monumental. Vários superlativos e records enfatizando a grandiosidade do projeto, o avanço tecnológico, a melhoria no nível de vida, o cuidado com a biodiversidade, o prodígio da engenharia, a geração de energia. Logo após seguimos de ônibus. Paramos na margem direita, de lá se avista Ciudad del Este e Foz do Iguaçu lado a lado, entre elas o que restou do rio Paraná. Observamos também algumas comportas do vertedouro abertas, o nível do lago está alto, houve chuva em São Paulo. Aliás, alguns até dizem que o aumento das chuvas em São Paulo é causado pela evaporação do lago de Itaipu. A água percorre uma longa rampa que serve para que o leito do rio não seja destruído por sua força. Algum tempo para fotografar e partimos novamente, agora pelo túnel que liga as duas margens e logo estávamos do lado brasileiro. O retorno foi por cima da barragem, quando então pudemos observar o gigantismo do lago.
Logo na saída de Itaipu vimos algumas barracas de lona na beira da estrada. Fomos ver do que se trata, soubemos que por questões políticas cerca de 200 pessoas foram dispensadas da função que exerciam em Itaipu, principalmente trabalhadores de serviços de limpeza e de segurança, uma delas era Edgar, com 28 anos de trabalho prestado. O acampamento já completara um ano e até o momento nada foi negociado.
Maria, uma das pessoas que estavam por lá, comentou que já viveu no Brasil e em mais alguns países da América do Sul, no exterior quando ouve falar do Paraguai sente-se envergonhada, quando volta sente revolta por perceber que a realidade de seu país não muda.
A noite Miriam nos contou sua história de viver a promessa de progresso. Primeiro na Colônia Presidente Stroessner, onde foi morar com apenas 9 anos, quando seu pai entrou no ramo de hotelaria. Em Hernandarias, no período anterior ao início de Itaipu, se incentivou a construção de hospedarias e hotéis, uma vez que os trabalhadores da usina se concentrariam ali. Não foi bem assim. Pouco depois da finalização da primeira etapa do hotel o Presidente Stroessner ordenou que a base para os trabalhadores fosse transferida para a cidade que levava o seu nome. Mesmo assim ainda havia a promessa da maior usina do mundo. Durante horas conversamos na penumbra, parte da iluminação não funcionava por conta da queda de energia, fato frequente na região. Em Hernandarias poucas pessoas tem acesso a água potável e não há uma serviço de esgoto descente. Um lugar que não deveria ter tantos motivos para ser assim.
Conteúdo originalmente publicado em 26/01/2010 no blog Trânsitos à margem do lago da extinta página web Rede Kuai Tema de Pontos de Cultura