Foz do Iguaçu – Vila C

Aguirras e sua esposa, pioneiros moradores da Vila C. 2010

Após o almoço híbrido de pratos japoneses, brasileiros e árabes perguntamos a um casal sobre as ocupações nas margens do rio, disseram que os moradores já haviam sido realocados da favela da marinha e não nos aconselharam ir até o local devido aos contrabandistas. Percorremos então o caminho até o terminal pelas ruas próximas ao rio Paraná.
Do terminal fomos até a Vila “C”, criada no tempo das construções de Itaipu para abrigar os “peões” – ou seja, pessoas que pegavam no pesado para levantar a usina.
Vila “C” é um dos bairros mais distantes do centro de Foz do Iguaçu e o mais próximo da Hidrelétrica. Adentrando o bairro, logo observamos a arquitetura peculiar das residências padronizadas, com estrutura do telhado em forma abaulada, como galpões. Em sua origem, uma mesma construção dividia-se em vários lotes e abrigava até quatro famílias. Pouco a pouco estas construções se singularizam pelas ocupações e suas histórias.
Descemos do ônibus com sede, uma quadra depois localizamos um negócio aberto. Logo percebemos que as pessoas que ali estavam poderiam contar histórias sobre o lugar. Tekão, Juca, Gealmir, Aguirras e sua esposa, moradores desde a década de 70. Foram quatro horas ouvindo suas histórias. Algumas delas documentadas em vídeo.
A infância, o banho em água dourada e o caminhão pipa. As transformações do lugar – ‘Foz do Iguaçu não era nada’ – construção de Itaipu, o caminhão ‘pega-corno’ trazendo pessoas de todos os lugares do Brasil. A valeta de 5 metros de profundidade – controle da vila. A façanha da colheita de alface e o caminho para casa. As canções, mágicas e murais – Roberto Carlos é loiro. A receita de sabão que a vila inteira produz e dá uma coceira. A colher gigante entalhada em Caqui Chocolate (a melhor para fazer sabão), a intoxicação nas plantações do Paraguai – 8% de vida, entre muitas outras…
Na volta passamos pela monumentalidade das muitas torres de alta tensão que partem da usina com destino aos grandes centros urbanos do Brasil, distantes da Vila “C”, que por incrível que pareça é alimentada por uma rede de energia paraguaia, dizem, a energia mais cara do Brasil.

Conteúdo originalmente publicado em 03/01/2010 no blog Trânsitos à margem do lago da extinta página web Rede Kuai Tema de Pontos de Cultura

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