Marechal Cândido Rondon – Porto Mendes

Bicho empalhado, 2010.

Pela manhã ao cambiar reais por guaranis encontramos Sérgio, que nos falou sobre uma situação curiosa, segundo ele, a trinta anos atrás, no Paraguai e Argentina a burocracia para colocar uma rádio no ar era muito simples, o que proporcionava uma grande quantidade de emissoras desses países na fronteira, adentrando até Cascavel. De um lado e de outro do Paranasão a cultura desses dois países era ouvida e no Brasil se passava a tomar gosto por elas.
No período da ditadura houve um incentivo do Brasil à abertura de rádios na fronteira, apesar de em outras regiões isso ser extremamente difícil. Se temia o domínio cultural, como estratégia de estabelecer um fronteira cultural muitas rádios brasileiras foram criadas.
No final da tarde chegamos a Porto Mendes, lá não é muito diferente de outras localidades, o esvaziamento populacional depois do alagamento de Itaipu e o abandono do campo por conta da mecanização e dos venenos. Conhecemos Hélcio e Aira, que nos indicaram conhecer algumas pessoas do distrito. Visitamos o museu local, entre muitos objetos antigos e alguns bichos empalhados encontramos uma carroça com grandes rodas no estilo inglês, na etiqueta de identificação estava escrito: doação da família Allica, recordamos do que Ivani havia nos dito um dia antes.
Fomos conversar com Benitez Mengarejo, um dos mais antigos moradores da região, trabalhou no Porto Mendes quando ainda se tranportava erva-mate vinda de Guaíra pela estrada de ferro da Mate Laranjeira, empresa que segundo Benitez escravizava seus trabalhadores.
Sobre a Coluna Prestes, comentou que os revolucionários ficaram nas terras de Allica, comeram seu gado e libertaram muitos colonos que viviam em regime de escravidão. Quando partiram assinaram uma promissória – o governo pagaria a conta. Também estava por lá Edson, filho de Benitez e geógrafo por formação, se interessou pelo assunto e trouxe à tona o conflito de terra entre quilombolas e fazendeiros em Maracajú dos Gaúchos, uma região próxima. Nos aconselhou a manter distância. Para Edson, Porto Mendes se tornou um vilarejo de aposentados.
Tomando um café na padaria conhecemos Nega (bem alemã), soubemos que entre Porto Mendes e Porto Adela no Paraguai há união entre os moradores, se visitam e organizam festas juntos, são amigos.
Ainda visitamos Lauro Spaniol, o fotógrafo das redondezas, quando era amador fotografou a barranca do rio Paraná. É aficcionado por Sucuris. Nos mostrou algumas fotos dos anos 1970, uma delas a carroça inglesa dos Allica.
Já no final do dia estávamos em um bar com muitas fotos de cobras, pescarias e caças. Júlio falou mais sobre as transformações do lugar ao longo dos últimos anos, segundo ele os fazendeiros estragaram Porto Mendes. Combinamos para o dia seguinte uma corrida até Iguiporã.

Conteúdo originalmente publicado em 21/01/2010 no blog Trânsitos à margem do lago da extinta página web Rede Kuai Tema de Pontos de Cultura

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