Porto Mendes – Puerto Adela – Iguiporã – Pato Bragado

Sr. Francisco, 2010.

De manhã partimos para Porto Adela, na barca umas cinco pessoas, em outros tempos vivia lotada.
Na chegada algumas casas fechadas – depois ficamos sabendo que em uma delas funciona um bar e lanchonete, mas por problemas de saúde não havia ninguém.
Andamos cerca de 500 metros pelo único caminho, encontramos o Destacamento da Marinha, onde paramos em busca de informações sobre o vilarejo, Carlos Pacce nos atendeu. Nenhum dos oficiais que por ali estavam eram moradores da região, a maioria de Assunção. A cada dois meses mudam seus postos, estão lá a um mês. Carlos logo chamou seu superior, o Sub Oficial Principal Gerardo Alfonso, Jefe del Destacamento Naval de Puerto Adela. Em meio a conversa passou um senhor em uma moto, Alfonso lhe fez um sinal para que chegasse até nós. Agapito, nascido em Puerto Adela é um dos responsáveis pela organização comunitária. Contou que nos anos 1970 a maioria dos imigrantes brasileiros que habitavam Puerto Adela trabalhavam com agricultura de subsistência. Já nos anos 1980 e 90 iniciou o processo de mecanização, o que para ele, não foi razão para a diminuição da população e sim, questões de aposentadoria e atendimento à saúde. Agapito estava de passagem, mas nos indicou uma pessoa para continuarmos a conversa, Francisco.
Alfonso e seu filho Marcos nos levaram até a casa de Francisco. Lá fomos recebidos numa sombreada área externa. Já de início Francisco se colocou como um contador de histórias, pois por elas sempre se interessou. Sua curiosidade o levou até a casa da viúva de Allica para saber a verdade sobre as mortes das quais acusavam o finado Allica na época do mensur. Fingindo estar interessado em comprar ferramentas chegou até ao alçapão de onde seguramente Allica encaminhava cobradores, funcionários que não respeitavam ordens ou seus inimigos e de lá caiam direto nas águas do Paraná.
Na época da extração de erva-mate, numa de suas caminhadas pelas trilhas de Canindeyú, Francisco se deparou com um carregador de erva, sua carga era de 160 quilos. Nos demonstrou como o homem caminhava, disse ainda que nos pés do homem não tinha botas, e sim grandes sandálias feitas de borracha – para que seus pés não afundassem no solo devido ao peso que trazia nas costas.
Nos perguntou se gostaríamos de saber porque aquele lugar se chama Puerto Adela, tendo uma resposta positiva iniciou uma nova história. Nas terras brasileiras do mesmo Allica matador de homens (seus domínios iam do Brasil ao Paraguay) havia uma escola que atendia aos filhos dos trabalhadores de Allica, a professora se chamava Adela. A moça estava de casamento marcado com um marinheiro que trabalhava na rota Porto Mendes – Buenos Aires. Seu noivo partiu em última viagem antes do casamento, Adela aguardava sua volta. Nesse meio tempo “homens de Allica” souberam do casamento e a violaram, Adela em desespero cometeu suicídio em honra de seu noivo e deixou uma carta, onde dizia que desejava ser enterrada no Paraguai, seu corpo foi então sepultado na barranca paraguaya do Paraná, hoje submersa.
Ainda contou sobre o cemitério indígena, onde encontrou muitos crânios sobre a terra. Comentou que os indígenas da região enterravam seus parentes com a cabeça para fora. Assim passamos o fim da manhã com Franscisco.
De volta ao Destacamento Naval nos serviram um almuerzo paraguayo, Arroz Altuko e Marinera de Pollo, preparado pelo Chef Carlos Pacce. Muy rico.
Alfonso comentou sobre o serviço militar, as diferenças entre a época da ditadura e hoje.
Um garoto chegou dirigindo uma moto, perguntamos sobre a escola da região. Disse que a tempos ela fechou por falta de alunos.
Aproveitamos ainda para ampliar nosso vocabulário guarani e castellano:
jaqueretê: tigre
perro callejero: vira-latas
jagua-i: fofoqueiro
De volta a Porto Mendes Júlio nos levou até Iguiporã, na parada de ônibus conversamos com uma senhora da região e um tratorista. Não demorou muito até tomarmos um ônibus à Pato Bragado.
Lá conhecemos Walter, pioneiro da região, combinamos que no dia seguinte tomaríamos um chimarrão em sua casa.

Conteúdo originalmente publicado em 22/01/2010 no blog Trânsitos à margem do lago da extinta página web Rede Kuai Tema de Pontos de Cultura

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