Acordamos cedo para tomar o combinado chimarrão com Walter, um dos pioneiros na região. Deixou seu comércio para abrir estradas para que os primeiros colonos se instalassem. Em Pato Bragado a maioria dos agricultores tem pequenas áreas de terra, alguns deles com fazendas mecanizadas do outro lado da fronteira.
Para Walter o que falta hoje em dia é criatividade, as pessoas pessoas se contentam com empregos. A cidade precisa andar por suas próprias pernas, sem a dependência do dinheiro repassado por Itaipu. Fica feliz por saber que muitas pessoas constroem suas vidas a partir daquilo que começou.
Esperando o ônibus para Porto Britânia, remanescente da ocupação inglesa, conhecemos Dete e Lia, mãe e filha, também iriam atravessar a fronteira. Barca lotada, no sábado muitos vem fazer compras no Brasil, o lago também está muito cheio e logo surgem comentários sobre barcos que afundaram na travessia.
Já Puerto Marangatu, todos possuem suas caronas para seguir em frente. Lia nos aponta Luiz, ele espera em um dos carros, muito sorridente nos leva a venda de seu pai, Demétrio. Conhecemos também Lídia, Berenice e Letícia.
Demétrio trabalhou muito tempo carregando gente de um lado a outro da fronteira, numa dessas travessias seu barco afundou com quatorze pessoas. Nos diz isso como se olhasse para trás dentro de si mesmo. Quatro pessoas morreram. É um dos moradores mais antigos, chegou ainda na década de 1950, quando tudo por lá ainda era mato. Na juventude trabalhou na tipografia, onde aprendeu muito da escrita guarani.
Por lá almoçamos. Ganhamos sementes de poroto. Berenice se animou em fazer umas fotos. As empanadas de Lídia parecem muito saborosas, tem gente que chegou a comer dezesseis numa só vez.
Na cozinha Lídia comenta que tem uma amiga de Curitiba que havia trabalhado no reflorestamento da margem paraguaia do lago, Luiz reforça que pode ser alguém importante para conversarmos. Duas cassas abaixo encontramos Carlos que havia trabalhado com ela e poderia nos passar o contato.
Logo depois Luiz nos deixa casa de Dete, que havia nos convidado para tomar um terere. Sete mulheres a sombra das árvores – Valdete, Lia, Néia, Adriana, Kayla, Djenifer, Kyria. Por lá ainda estava o Chico. Valdete tem uma casa de bailes – o Mania Open Show, onde também serve refeições para funcionários do cilo ao lado. Já foi embora umas 3 vezes e voltou, mas parece que agora vai de vez, seu pai, que vive no Espírito Santo, está doente e precisa de cuidados. Dete conta que seu marido foi indenizado por Itaipu na inundação de suas terras, o que restou delas está logo ali do outro lado da estrada. Depois de ter recebido a bolada ele deu no pé e a deixou com 5 filhos para criar. Lia luta por sua carreira de cantora, já foi comunicadora de rádio e hoje está numa fase transitória entre um grupo em Cuiabá e uma possibilidade em Curitiba. Néia também já fez programa de rádio, tem uma linda voz e duas filhas, Djeni vive no Rio Grande do Sul, Kayla vai estudar em Pato Bragado. Comentou que o cilo substituiu uma série de casas similares as do velho oeste hollywoodiano. Chico trabalha como construtor, em Primer de marzo podemos ver algumas casas fruto de seu trabalho.
Néia e Chico nos levaram de moto até a hospedagem de Arsênia – a profe. Nos recebeu com ar familiar e nos levou a uma casa rústica localizada em frente a um riacho, onde passamos a noite.
Ainda conhecemos Baiano que é proprietário da lanchonete, disse que do Brasil só não conhecia o Maranhão. Seu filho Edgar nos disse que Marangatu é um verdadeiro inferno.
Conteúdo originalmente publicado em 23/01/2010 no blog Trânsitos à margem do lago da extinta página web Rede Kuai Tema de Pontos de Cultura